14 Entrevista: Liderança Feminina

14 Entrevista: Liderança Feminina

WHR Knowledge
15 de julho de 2024
14 Entrevista: Liderança Feminina

No cenário corporativo atual, a liderança feminina tem se destacado cada vez mais, trazendo novas perspectivas e abordagens inovadoras para a gestão de negócios.

Para explorar esse tema de grande relevância, entrevistamos Michelle Uema, uma profissional brasileira que está fazendo história no México como Diretora de Experiência do Cliente.

Executiva com mais de 16 anos de experiência liderando projetos de alto impacto que geraram retornos financeiros substanciais e impulsionaram o crescimento de organizações no Brasil, México e América Latina.

Michelle possui uma expertise singular em gerenciar transformações organizacionais, projetos de Go to Market e turnaround de negócios, além de navegar com destreza nas complexidades de processos de spin-offs e M&As.

Especialista em alavancar recursos, capabilities e relacionamentos para obter vantagens competitivas, ela tem um histórico comprovado de redução expressiva de custos e crescimento significativo de mercado e receita. Com experiência em participação em Conselhos, Michelle é conhecida por sua visão estratégica e comunicação assertiva.

Como líder, Michelle inspira equipes a alcançar seu pleno potencial, promovendo um ambiente colaborativo e inovador. Ela possui uma habilidade especial para definir claramente missões e objetivos, alinhar pessoas e recursos, e entregar resultados que superam expectativas.

Focada em iniciativas transformadoras, ela motiva as pessoas a se unirem em torno de um propósito comum, impulsionando mudanças organizacionais e fomentando o desenvolvimento contínuo das equipes.

Além de suas atividades profissionais, Michelle equilibra sua carreira mentorando projetos sociais de alto impacto há 7 anos através da Aceleradora Glocal, onde capacita ONGs a alcançar seus objetivos e gerar impacto positivo nas comunidades.

Com uma experiência internacional e uma carreira marcada por grandes conquistas, Michelle compartilhou suas experiências, desafios e visões sobre o papel das mulheres na liderança empresarial.

Michelle é formada em Relações Internacionais pela FAAP, possui um MBA em Marketing pela FAAP, uma especialização em Gestão de Projetos pelo PMI e uma especialização em Políticas Públicas pela Escola de Governo/USP.

Ela tem compartilhado no LinkedIn insights sobre liderança feminina, mulheres no mercado de trabalho, experiência do cliente e estratégia de negócios, consolidando sua posição como uma influente voz na área.

Confira a Entrevista Completa: Liderança Feminina

WHR Knowledge: Antes de tudo, gostaríamos de agradecer a sua participação. Temos certeza de que sua trajetória irá inspirar muitas mulheres e trazer um novo olhar para diversas organizações sobre esse tema tão importante: Liderança Feminina.

Michelle, pode nos contar um pouco sobre sua trajetória profissional até se tornar Diretora de Experiência do Cliente e Estratégia de Negócios?

Michelle Uema: Claro, é um prazer compartilhar minha trajetória. Obrigada pelo convite!

Início e Influências

Minha trajetória começa com minha mãe, uma mulher incrível que enfrentou inúmeras adversidades desde muito jovem. Ela sempre foi minha inspiração de persistência e força. Quando eu tinha dois anos, minha mãe conheceu meu padrasto, que se tornou meu pai e trouxe estabilidade para nossas vidas. Minha irmã, que nasceu 7 anos depois, é como uma filha para mim, e cuidar dela me trouxe uma alegria imensa, além de um senso de responsabilidade.

Minha infância foi marcada por muitas mudanças devido às missões religiosas do meu padrasto. Morei em várias cidades, e cada mudança trouxe novos desafios e oportunidades que moldaram minha capacidade de adaptação.

Aos 17 anos, após a separação dos meus pais, mudei para São Paulo com uma mesada de apenas 200 reais, determinada a seguir meus sonhos. Enfrentei muitas dificuldades financeiras e emocionais, mas esses desafios só fortaleceram minha determinação.

Crescimento Acadêmico e Profissional

Minha primeira grande oportunidade profissional veio de forma inesperada. Mesmo sem passar no vestibular de jornalismo da USP, consegui um trabalho como freelancer na Editora Abril. Lá, conheci Ibsen Petropolis, diretor de Veja, que me apresentou ao curso de Relações Internacionais.

Essa descoberta mudou o rumo da minha vida, e acabei encontrando uma nova paixão. Durante minha graduação na FAAP, consegui bolsas, viajei para congressos internacionais e trabalhei na ONU em Nova York. Foi na ONU que compreendi a força do setor privado em transformar a sociedade.

Após me formar, fui convidada pela FAAP para dar aulas, além de ser a editora da Revista de Relacoes Internacionais e Economia, o que foi uma experiência enriquecedora e desafiadora. Minha carreira realmente começou a decolar na Whirlpool, onde entrei como trainee e ganhei meu primeiro mentor, Paulo Miri. Trabalhei em diversas áreas, incluindo planejamento estratégico e vendas, o que ampliou minha visão de negócios.

Depois, na Philips, liderei meu primeiro projeto de Go-to-Market, preparando a empresa para um spin-off. Em seguida, na Mondelez, liderei a fusão das empresas Cadbury e KraftFoods, otimizando processos e operações. Na Sanofi, liderei o projeto de turnaround da Medley, e em seguida, a integração das áreas comerciais da Medley-Sanofi, harmonizando culturas corporativas distintas.

Na DSM, defini e implementei estratégias de negócios para a América Latina, focando na segmentação de clientes, eficiência operacional e adoção digital. Esse período foi de grande aprendizado e crescimento, elevando os resultados da empresa a níveis acima do mercado.

Desafios Pessoais e Conquistas Recentes

Em 2020, após sair da DSM, meu avô de 89 anos ficou doente, e minha avó, de 86, cuidava dele sozinha. Decidi me mudar para a casa deles para ajudar. Passei meses cuidando deles, exausta física e emocionalmente. Minha avó, que sempre foi um exemplo de amor e cuidado, me inspirava com sua dedicação.

Esses meses me ensinaram lições valiosas sobre empatia e entrega. Meu avô, que sempre foi um pilar de força em nossa família, faleceu em julho de 2020, deixando um legado de compaixão que carregarei para sempre.

No ano seguinte, no Grupo NC Farma, liderei a reestruturação do modelo de negócios, unificando 13 unidades. Essa fase foi um verdadeiro desafio, mas extremamente recompensadora. Melhorar a eficiência e a excelência operacional resultou em um crescimento expressivo, superando a média do mercado.

Foi no Grupo NC que conheci meu marido, Caê, um consultor especializado em treinamentos corporativos de liderança e habilidades interpessoais. Nossa história começou de forma inusitada no ambiente de trabalho – eu quase o contratei para liderar um team building com minha equipe -, e seu apoio é fundamental em minha trajetória.

Depois, fui para a Uber Eats, onde tive a oportunidade de liderar operações comerciais para a América Latina, consolidando minha habilidade em conectar operações e estratégia com execução eficaz. Essa experiência foi transformadora e me proporcionou uma visão abrangente de como a tecnologia pode revolucionar a forma como nos conectamos com clientes e parceiros.

Carreira Internacional

Quando recebi a proposta da SpotOn, nos mudamos para o México. E aqui, lidero a construção de uma operação do zero, elevando a satisfação do cliente para 95% em sete meses. Cada desafio enfrentado e superado me trouxe uma nova perspectiva, mostrando que com dedicação e um time comprometido, é possível alcançar resultados excepcionais e um impacto positivo significativo.

Minha trajetória profissional é uma extensão da minha jornada pessoal, ambas marcadas por desafios e superações. Essas experiências me moldaram tanto como pessoa quanto como profissional, permitindo-me liderar com empatia, perseverança e paixão. Cada etapa, cada desafio, contribuiu para minha formação e para o impacto positivo que busco criar no mundo.

WHR Knowledge: Quais foram os maiores desafios que você enfrentou ao longo de sua carreira e como você os superou?

Michelle Uema:  Ah, houve muitos desafios, tanto nos negócios quanto por ser mulher em um ambiente corporativo. Vou dividir esses desafios em duas partes para explicar melhor: os desafios de negócios e os desafios por ser mulher.

Desafios de Negócios

Um dos maiores desafios foi durante a fusão entre Medley e Sanofi. Harmonizar duas culturas corporativas distintas e garantir um alinhamento estratégico foi uma tarefa bastante complexa. Lembro-me de passar inúmeras noites trabalhando em planos de integração detalhados, focando na comunicação transparente e no envolvimento de todos os stakeholders.

Foi um processo que exigiu muita paciência e habilidade para lidar com diferentes perspectivas e expectativas. No final, conseguimos uma transição suave e eficaz, o que foi extremamente gratificante.

Outro grande desafio foi transformar uma cultura de conflito em um ambiente de sinergia entre as 13 empresas do Grupo NC Farma. Desenhamos uma estrutura robusta que aproveitasse o melhor de cada empresa para cobrir diferentes segmentos do mercado. Isso envolveu longas reuniões de negociação, onde era central escutar e valorizar as contribuições de cada parte. Ver essa transformação acontecer foi uma das experiências mais recompensadoras da minha carreira.

Mais recentemente, no México, construir uma operação do zero na SpotOn foi um desafio e tanto. Enfrentar as diferenças culturais e entender o modelo de negócio foi primordial. Inicialmente, houve muitas dificuldades em adaptar nossas estratégias e ganhar a confiança da equipe. Com uma liderança estratégica e uma abordagem centrada no cliente, conseguimos envolver a equipe e implementar práticas que rapidamente elevaram a satisfação do cliente para 95%, algo inimaginável no início.

Esse processo me ensinou muito sobre adaptação, determinação e a importância de uma liderança centrada na experiência. Cada um desses desafios não só me ensinou lições valiosas, mas também fortaleceu minha paixão por transformar organizações e alcançar resultados excepcionais.

Desafios por Ser Mulher – Liderança Feminina

Ao longo da minha carreira, enfrentei situações em que, por ser mulher, sentia que minha voz não era levada com a mesma seriedade que a de meus colegas homens.

Lembro-me de um evento corporativo onde ouvi a Cristina Palmak da SAP falar sobre liderança feminina. Uma mulher perguntou a ela como tinha feito para chegar onde estava sendo mulher.

Essa pergunta me fez refletir sobre minhas próprias experiências e sobre a importância de nos valorizarmos e nos posicionarmos. Percebi que precisava confiar em mim mesma e questionar suposições injustas para abrir caminho para outras mulheres.

Anos mais tarde, liderando uma reunião importante, percebi que os homens na sala evitavam me olhar diretamente. Foi uma experiência profundamente constrangedora e frustrante. Sentia que meu valor e minhas contribuições estavam sendo desconsiderados apenas por causa do meu gênero.

Esse momento me ensinou a importância de ser assertiva e persistente. Trabalhei arduamente para demonstrar o valor que eu trazia para o negócio e conquistar meu espaço. Com o tempo, meu trabalho começou a falar por si e meu time e eu fomos aplaudidos e reconhecidos pelo trabalho que entregávamos mês a mês.

Isso reforçou em mim a convicção de que perseverança e tenacidade são essenciais para superar barreiras e preconceitos, em especial para liderança feminina.

Em outra ocasião, como gestora, senti que, por ser mulher, jovem e nova na posição, os gerentes que reportavam para mim não demonstravam a mesma confiança que tinham no meu colega homem, mais velho e com mais tempo de casa.

Era uma sensação de isolamento e desvalorização que muitas mulheres enfrentam no ambiente de trabalho. Trabalhei para construir confiança e respeito, demonstrando consistentemente minhas capacidades e resultados.

Aos poucos, consegui mostrar meu valor, e hoje, essas mesmas pessoas buscam minha opinião e orientação.

Essas experiências me ensinaram muito sobre empoderamento e a importância de confiar em mim mesma. Elas me fizeram refletir sobre a necessidade de nos fortalecermos, desafiarmos o status quo e lutarmos para que todas as mulheres sejam ouvidas e valorizadas no ambiente de trabalho.

A mudança começa quando nos posicionamos e encaramos a resistência e o desconforto. É um caminho que exige coragem e determinação, mas é decisivo para criar um ambiente mais justo e equitativo.

Hoje, percebo a importância de inspirar outras mulheres a persistirem em suas jornadas. Se cada uma de nós se posicionar e apoiar umas às outras, podemos transformar nossas realidades e criar um futuro mais inclusivo e igualitário para todas.

 

WHR Knowledge: Na sua opinião, quais são as características essenciais de uma boa liderança feminina?

Michelle Uema: Para mim, as características essenciais de uma boa líder feminina não se encaixam em um molde rígido, mas se adaptam às necessidades da equipe e da situação. Visão estratégica, empatia e coragem são fundamentais.

A visão estratégica é crucial para traçar o caminho e guiar a equipe em direção aos objetivos da organização, antecipando tendências e oportunidades. Essa visão deve ser flexível para se ajustar às mudanças do mercado e às realidades da equipe. Uma boa líder adapta sua estratégia conforme necessário, garantindo decisões informadas e alinhadas com as capacidades e expectativas da equipe.

Empatia é indispensável para criar um ambiente de confiança e respeito, onde cada membro se sente valorizado e compreendido. Isso envolve mais do que ouvir; é necessário agir para remover obstáculos e proporcionar suporte contínuo. A escuta ativa e o acolhimento das ideias do time fortalecem o espírito de equipe e promovem um ambiente colaborativo.

Coragem é vital para tomar decisões difíceis, enfrentar adversidades e promover mudanças significativas. Contudo, a coragem também se manifesta na vulnerabilidade. Admitir erros e compartilhar desafios pode ser uma forma poderosa de liderança. Demonstrar vulnerabilidade cria uma conexão genuína com a equipe, mostrando que é possível ser forte e humano ao mesmo tempo. Ser transparente sobre expectativas e compartilhar aprendizados constrói um ambiente de confiança mútua.

Não existe um ideal de liderança que funcione para todas as situações. O que importa é encontrar o que funciona para você e para a equipe que está liderando. Isso significa ser crítica e reflexiva sobre seu próprio estilo de liderança e estar disposta a evoluir. Liderar com coração e mente alinhados é a chave para criar uma equipe engajada e bem-sucedida. Adaptar-se às necessidades da equipe e do mercado guia a organização ao sucesso sustentável.

 

WHR Knowledge: Como você vê a importância da diversidade de gênero nas posições de liderança?

Michelle Uema: A diversidade de gênero nas lideranças é crucial para impulsionar a inovação e enriquecer a tomada de decisões. Muitas vezes, a discussão sobre diversidade de gênero é tratada de forma superficial, sem ações concretas que realmente façam a diferença. É fácil falar sobre a importância da diversidade, mas implementar políticas e práticas efetivas é mais desafiador.

Mulheres trazem perspectivas valiosas que ampliam o debate e resultam em soluções mais eficazes. Não basta apenas incluir mulheres; é preciso entender e atender às necessidades específicas delas, especialmente as de grupos sub-representados. Sem essa compreensão e suporte, a inclusão pode se tornar apenas simbólica.

Promover a diversidade de gênero deve estar ligado a ações concretas que gerem resultados tangíveis e criem um caminho claro para o avanço profissional. Isso inclui programas de mentoria, políticas de equilíbrio entre vida profissional e pessoal, e iniciativas que garantam igualdade de oportunidades.

Ações Concretas

No meu trabalho, sempre busquei promover essa diversidade de forma prática e significativa. Na SpotOn, contratei mulheres retornando de licença maternidade, garantindo o suporte necessário para equilibrar responsabilidades profissionais e pessoais.

Na NC Farma, implementei políticas de horários flexíveis para permitir que as mulheres gerenciem melhor suas responsabilidades familiares. Esse tipo de flexibilidade é crucial para reter talentos femininos e promover um ambiente de trabalho inclusivo.

Na DSM, liderei grupos de discussão internos focados em diversidade e inclusão, como o She for She, incentivando todas as vozes a se manifestar. Esses grupos são fundamentais para identificar barreiras e desenvolver soluções que promovam um ambiente mais inclusivo.

Além disso, há muitos anos, sou mentora de jovens mulheres, oferecendo orientação e suporte em suas trajetórias de carreira. Esse trabalho de mentoria é essencial para ajudar as mulheres a superar desafios e avançar em suas carreiras, proporcionando a confiança e as ferramentas necessárias para alcançar suas metas.

Sempre me preocupei em dar voz às mulheres que trabalham comigo, promovendo espaços de fala em reuniões e projetos de alto impacto. Isso fortalece a confiança dessas profissionais e enriquece nossas discussões e decisões estratégicas com suas valiosas perspectivas.

Inclusão Verdadeira

Mas a diversidade de gênero é apenas o começo. Para alcançar uma verdadeira inclusão, precisamos enfrentar questões relacionadas à diversidade étnica, etária, de orientação sexual e de pessoas com deficiência. A verdadeira inclusão significa criar um ambiente onde todas as vozes sejam ouvidas e valorizadas.

Promover um ambiente de trabalho inclusivo e diversificado não é apenas uma questão de justiça social, mas uma estratégia de negócios inteligente que pode levar a melhores resultados financeiros e maior inovação. Com ações concretas e um compromisso genuíno, podemos transformar a diversidade em uma poderosa alavanca para o sucesso organizacional.

As empresas que integram essas diversas perspectivas frequentemente alcançam melhores resultados financeiros e criam um ambiente de trabalho mais colaborativo e produtivo. Isso requer um esforço contínuo e uma vontade real de mudança, e não apenas discursos bonitos.

WHR Knowledge: Como foi a experiência de se mudar para o México e quais foram as principais diferenças culturais que você encontrou no ambiente de trabalho?

Michelle Uema: Mudar para o México tem sido uma experiência enriquecedora e cheia de desafios. Liderar uma equipe do zero em uma startup exigiu a construção de uma cultura organizacional focada em performance, meritocracia e experiência do cliente. Essa jornada apresentou obstáculos que se tornaram oportunidades de crescimento.

Adaptação Cultural

A adaptação cultural foi um dos maiores desafios iniciais. A falta de uma rede de apoio tornou essa transição mais complexa. Trabalhar em uma startup que demanda respostas rápidas adicionou uma camada extra de pressão. Especialmente quando a compreensão das nuances culturais era central para o sucesso. Refletindo sobre isso, reconheço que um maior investimento de tempo na compreensão da cultura local desde o início teria facilitado o processo.

A comunicação no México tende a ser mais indireta e contextual, contrastando com o estilo direto ao qual eu estava acostumada. Além disso, existe uma cultura mais hierárquica. Isso exigiu uma adaptação significativa no meu estilo de liderança. Tive que me tornar mais sensível e atenta às sutilezas culturais, aprendendo a importância de ser mais paciente e de valorizar as interações interpessoais para construir confiança e colaboração eficazes.

Por exemplo, em reuniões, percebi que as pessoas tendem a evitar confrontos diretos e preferem abordagens mais diplomáticas. Adaptar-me a esse estilo ajudou a criar um ambiente de trabalho mais harmonioso e produtivo.

Desafios e Oportunidades

Construir uma cultura organizacional centrada na experiência do cliente foi particularmente desafiador. Muitas vezes, essa mentalidade não estava enraizada no DNA de todos. Quantas empresas realmente se destacam pela experiência do cliente? Isso não é um desafio exclusivo do México, mas um fenômeno global. Engajar a equipe nessa prioridade, enquanto lidava com a pressão típica de uma startup, foi um exercício contínuo de dedicação e perseverança.

Como mulher em um país onde apenas 13% das posições de liderança são ocupadas por mulheres, segundo dados da McKinsey, enfrentei desafios adicionais. Em algumas ocasiões, senti que minha voz não era ouvida da mesma forma que a de meus colegas homens.

No entanto, esses desafios fortaleceram minha resiliência e me ensinaram a importância de persistir e liderar com autenticidade. Transformei esses obstáculos em oportunidades de empoderamento, promovendo uma cultura de inclusão e valorização das contribuições de todos.

Crescimento Pessoal e Profissional

Viver e trabalhar no México foi uma jornada de profundo crescimento. Aprendi que é essencial dar tempo para nos adaptarmos e compreendermos a nova cultura. A cada etapa dessa jornada, sinto-me mais feliz e enriquecida pelas experiências. Abrir-se para novas oportunidades e evitar fechar-se às diferenças iniciais é fundamental. Cada momento de adaptação traz uma nova perspectiva e aprendizado, tornando a jornada ainda mais valiosa.

Compreendi profundamente o impacto das minhas ações nos outros e vice-versa. Isso me permitiu ajustar continuamente minha abordagem, criando um ambiente de trabalho mais coeso. A chave para superar desafios é manter uma visão positiva e estar aberta ao aprendizado constante. Com paciência e mente aberta, é possível transformar desafios em realizações significativas e duradouras.

A vivência no México reforçou minha crença de que, com tempo e disposição para aprender e crescer, podemos prosperar em qualquer ambiente. Entender o impacto que temos sobre os outros e como isso molda nossas ações tem sido crucial. Essa adaptação contínua é essencial para o sucesso e a felicidade em um novo país.

 

WHR Knowledge: Que conselhos você daria para outras mulheres que estão considerando uma carreira internacional?

Michelle Uema: Meu principal conselho é: mergulhe de cabeça, mas prepare-se bem. Compreender a cultura do novo país e aprender o idioma são essenciais. Enfrente esses desafios com mente aberta e esteja disposta a aprender com cada experiência, mesmo que inicialmente pareça desconfortável.

Adapte-se à Nova Cultura

Observar e entender a nova cultura é crucial. Preste atenção aos comportamentos, valores e práticas locais, tanto no ambiente profissional quanto pessoal. Isso não só facilita sua adaptação, mas também enriquece sua vivência, permitindo uma integração mais harmoniosa. Criar uma rede de apoio é fundamental. Ter pessoas ao seu lado, tanto no trabalho quanto fora dele, faz toda a diferença.

Quando me mudei para o México, demorou um tempo para construir essa rede, mas foi essencial para minha adaptação. Envolver-se em comunidades locais, reconectar com amigos que já estavam no país e fazer novos contatos foram passos significativos. A solidão pode ser um grande desafio, e uma rede de apoio ajuda a superá-la.

Enfrente os Desafios e Mantenha a Resiliência

Reconheça que haverá momentos difíceis. Respirar fundo e buscar ajuda para gerenciar o estresse, especialmente nos primeiros meses, é vital. Não desista antes de começar a ver os frutos da sua adaptação. Se você está se mudando com a família, cuide do bem-estar deles também, pois a mudança afeta a todos. Envolva-os no processo de adaptação.

Manter a resiliência e a tranquilidade é determinante, sabendo que cada desafio é um aprendizado valioso. Adote uma atitude positiva e uma mentalidade de crescimento. Os obstáculos são inevitáveis, mas cada um é uma oportunidade de crescimento e aprendizado. A adaptação cultural pode ser lenta e desafiadora, mas através desses desafios, ganhamos uma nova perspectiva e um entendimento mais profundo de si mesmo e do mundo ao redor.

Abrace a Jornada de Autodescoberta

Uma carreira internacional é muito mais do que uma oportunidade profissional – é uma verdadeira jornada de autodescoberta e desenvolvimento pessoal. Esteja disposta a aprender continuamente, a se adaptar e a ser flexível. Dar tempo para entender e apreciar a nova cultura é crucial.

Cada experiência moldará suas crenças, fortalecerá sua capacidade de superação e ampliará sua adaptabilidade. Uma carreira internacional te transforma de maneiras inimagináveis, proporcionando um crescimento tanto profissional quanto pessoal. Esteja preparada para abraçar essa jornada com todas as suas complexidades e recompensas.

 

WHR Knowledge: Quando falamos de liderança feminina, não podemos esquecer da vida pessoal. Como você equilibra suas responsabilidades profissionais com a vida pessoal?

Michelle Uema: Equilibrar a vida profissional e pessoal é um desafio constante, especialmente em uma posição de liderança. No passado, priorizei minha carreira muitas vezes em detrimento da minha saúde e família, e aprendi que isso não era sustentável. Minha família e minha saúde agora vêm em primeiro lugar. Negligenciar essas áreas afetava meu bem-estar e minha eficácia como líder.

Práticas Pessoais para o Equilíbrio

Hoje, pratico meditação e frequento a academia regularmente, o que me ajuda a manter a calma e a clareza mental. Aprendi a delegar e a deixar algumas tarefas para o dia seguinte. Sempre haverá mais trabalho, mas é essencial escolher as batalhas. Aceitar que não posso fazer tudo sozinha e confiar na minha equipe foi a base para alcançar um equilíbrio saudável.

Enfrentei o desafio de lidar com a expectativa de estar sempre disponível, especialmente em uma startup com atendimento 24 horas, 7 dias por semana, onde respostas rápidas são esperadas. Estabelecer limites claros tem sido vital para minha saúde mental e eficácia como líder. Tenho aprendido a dizer “não” e a confiar que minha equipe pode lidar com situações sem minha intervenção constante.

Ajustes Diários e Apoio Familiar

Hoje, consigo equilibrar minha vida pessoal, casamento, saúde e trabalho. Nem sempre os pratos estão equilibrados; às vezes, a família exige mais atenção, outras vezes, é o trabalho. O importante é não pender sempre para um lado só. É um exercício diário que exige reflexão constante e ajustes, mas é fundamental para manter a satisfação pessoal e profissional a longo prazo.

A mudança para o México foi um grande teste para esse equilíbrio. A parceria com meu marido é insubstituível. Juntos, aprendemos a enfrentar os desafios de viver e trabalhar em um novo país, sempre nos apoiando mutuamente. Celebramos nossas conquistas, enfrentamos dificuldades juntos e sempre encontramos uma maneira de nos apoiar.

Estabelecendo uma Cultura de Equilíbrio

Manter o contato com minhas enteadas é essencial. Falar com a mais nova no meio do dia faz toda a diferença, assim como conversar com minha avó durante o almoço. Esses momentos pessoais me ajudam a recarregar e a manter uma perspectiva equilibrada entre minhas responsabilidades profissionais e familiares.

Ao adotar essa abordagem de equilíbrio, também incentivo minha equipe a fazer o mesmo. Estabelecer uma cultura onde todos se sintam à vontade para priorizar sua saúde e suas famílias cria um ambiente de trabalho mais saudável e produtivo. Acredito que uma equipe que cuida de suas necessidades pessoais é mais engajada e eficaz no trabalho.

Equilibrar a vida profissional e pessoal não é fácil. É um trabalho contínuo que requer ajustes constantes, autoconhecimento e a capacidade de priorizar o que realmente importa em cada momento. Essa abordagem me permite ser uma líder melhor para minha equipe, e, ao mesmo tempo, cuidar do meu bem-estar e das pessoas que amo.

 

WHR Knowledge: Que dicas você pode dar para outras mulheres que buscam esse equilíbrio?

Michelle Uema: Encontrar o equilíbrio entre vida profissional e pessoal é um desafio contínuo e real, mas totalmente alcançável. Minha principal dica é não ter medo de pedir ajuda e delegar responsabilidades. Muitas mulheres sentem a pressão de “dar conta de tudo”, o que é uma expectativa irreal e injusta. Aprender a dizer “não” e estabelecer limites saudáveis é indispensável para manter a sanidade mental e a eficácia no trabalho.

Cuide da Saúde Mental e Física

Cuidar da saúde mental e física não é apenas uma necessidade pessoal, mas também um ato de liderança. Se você não estiver bem consigo mesma, será difícil liderar e apoiar os outros de maneira eficaz. Reserve tempo para atividades que você ama e que ajudam a recarregar suas energias. Estudos mostram que o autocuidado melhora a produtividade e a satisfação no trabalho.

Desconectar do trabalho e encontrar momentos de relaxamento é essencial. Vivemos em uma era de hiperconectividade, onde a linha entre trabalho e vida pessoal é cada vez mais tênue. Isso pode levar ao esgotamento e à diminuição da qualidade de vida. A política de “sempre online” é prejudicial. Estabelecer horários definidos para trabalhar e para descansar é vital.

Celebre Conquistas e Envolva-se em Atividades Sociais

Praticar hobbies como leitura, dança, gastronomia ou esportes pode ajudar a desligar do trabalho e recarregar as energias. Celebrar suas conquistas, grandes e pequenas, mantém a motivação e o bem-estar. O reconhecimento de pequenos sucessos aumenta a moral e a produtividade.

Envolver-se em atividades sociais ou comunitárias pode proporcionar um senso de propósito e equilíbrio. Minha experiência como mentora na Aceleradora Glocal, onde ofereço orientação a projetos sociais, tem sido uma fonte significativa de renovação. Trabalhar com essas iniciativas e ver seu impacto positivo na comunidade recarrega minhas energias.

Encontre o Equilíbrio que Funciona para Você

Priorizar seu bem-estar não é egoísmo, mas uma necessidade para ser uma líder equilibrada e bem-sucedida. O equilíbrio não é um estado permanente, mas um processo contínuo que requer ajustes constantes. Encontrar um equilíbrio que funcione para você é um esforço contínuo. Desenvolver uma rotina que inclua pausas regulares e momentos de autocuidado é crucial para manter a energia e a motivação.

Equilibrar responsabilidades profissionais e pessoais exige um esforço consciente, mas é possível e necessário para uma liderança eficaz e uma vida mais plena e feliz.

 

WHR Knowledge: O que você espera ver no futuro em termos de liderança feminina no Brasil e no mundo?

Michelle Uema: Espero ver um crescimento significativo na presença de mulheres em posições de liderança, tanto em número quanto em impacto. Embora tenhamos feito progressos, ainda há muitos obstáculos a superar. Segundo uma pesquisa recente da McKinsey, apenas 25% dos cargos de liderança sênior no mundo são ocupados por mulheres, e no Brasil, esse número é ainda menor. Isso mostra que temos um longo caminho pela frente.

Superando Desafios

Muitas mulheres desistem de posições de liderança devido à falta de apoio para equilibrar vida profissional e pessoal, preconceitos de gênero e oportunidades desiguais. Precisamos de ações concretas que promovam um ambiente de trabalho mais inclusivo e igualitário para enfrentar esses desafios.

É essencial que as empresas valorizem e apoiem as mulheres durante a gravidez e a maternidade, oferecendo creches, horários flexíveis e um ambiente acolhedor. As dificuldades que muitas mulheres enfrentam para engravidar são frequentemente ignoradas no ambiente corporativo. Normalizar a contratação de mulheres grávidas e garantir que elas recebam o apoio necessário, incluindo suporte psicológico durante tratamentos de fertilização, é crucial.

Combate aos Preconceitos de Gênero

Os preconceitos de gênero são uma barreira significativa. Muitas mulheres ainda enfrentam situações em que suas contribuições são subestimadas ou ignoradas. Empresas precisam promover uma cultura de respeito e inclusão, onde todas as vozes sejam valorizadas. Homens em posições de liderança têm um papel crucial nesse processo. A igualdade de gênero não é responsabilidade só das mulheres; é uma causa de todos. Homens devem ser aliados e promotores de inclusão.

Para promover essa mudança, espero ver mais programas de desenvolvimento de liderança específicos para mulheres, mentorias e redes de apoio.

Iniciativas como o She for She incentivam mulheres a apoiar outras mulheres no desenvolvimento de suas carreiras. Outra iniciativa é o He for She, criado pela ONU Mulheres, que convida homens e meninos a serem defensores ativos da igualdade de gênero. Temos também os Lean In Circles, fundados por Sheryl Sandberg, que são pequenos grupos de mulheres que se encontram regularmente para se apoiar mutuamente.

Garantindo Oportunidades Iguais

Para garantir reconhecimento e oportunidades iguais entre homens e mulheres, as empresas precisam implementar programas de treinamento sobre preconceitos inconscientes e a importância da diversidade e inclusão. Estabelecer critérios claros e objetivos para promoções e aumentos salariais, garantindo que as avaliações de desempenho sejam justas e que todas as oportunidades de avanço sejam comunicadas abertamente, é fundamental.

Desenvolver programas formais de mentoria e patrocínio, onde líderes seniores apoiem e promovam o desenvolvimento de mulheres dentro da empresa, pode abrir novas portas e oportunidades. Realizar auditorias regulares de salários para garantir que não haja disparidades salariais injustificadas entre homens e mulheres e oferecer opções de trabalho flexíveis, como horários flexíveis e trabalho remoto, ajudam as mulheres a equilibrar suas responsabilidades profissionais e pessoais.

O Futuro

No futuro, quero ver um mundo onde as mulheres tenham as mesmas oportunidades e suas contribuições sejam plenamente reconhecidas e valorizadas. Diversidade traz inovação e um impacto social positivo; empresas com maior diversidade de gênero na liderança não apenas superam a média da indústria, mas também promovem justiça social e equidade. As futuras gerações merecem um ambiente onde a igualdade de gênero seja realidade e todas as vozes sejam respeitadas.

A inclusão e a igualdade são fundamentais para um futuro mais justo e próspero para todos. É essencial que todos nós – empresas, homens e mulheres – trabalhemos juntos para eliminar barreiras e criar oportunidades reais para mulheres em todos os níveis de liderança. Ao promover uma cultura de inclusão, respeito e apoio mútuo, estamos fortalecendo nossas organizações e criando um futuro mais igualitário para todos.

 

WHR Knowledge: Que mensagem você gostaria de deixar para as jovens mulheres que aspiram a posições de liderança?

Michelle Uema: Acreditem profundamente em si mesmas e no impacto transformador que podem causar. O caminho pode ser repleto de desafios, mas cada obstáculo é uma oportunidade de crescimento e aprendizado. Enfrentar dificuldades é inevitável, mas a forma como lidam com elas define sua trajetória. Pedir ajuda não é sinal de fraqueza, mas de sabedoria.

Construindo Redes de Suporte

Meus mentores foram essenciais na minha jornada, oferecendo conselhos e apoio em momentos críticos. Construam redes de suporte, pois são fundamentais para o sucesso. E, acima de tudo, mantenham-se fiéis aos seus valores. A autenticidade é uma das suas maiores forças e fará a diferença em suas jornadas de liderança.

Quando me mudei para São Paulo sozinha, aos 17 anos, determinada a seguir meus sonhos, enfrentei dificuldades financeiras e emocionais. Trabalhei duro, estudei e, acima de tudo, acreditei que cada desafio era uma etapa para algo maior. Essa força interior é crucial. Enfrentar dificuldades faz parte da jornada, mas a recompensa de ver suas conquistas é imensurável.

Apoiar e elevar outras mulheres é essencial. Juntas, somos mais fortes. Lembro-me de quantas vezes encontrei força nas palavras e ações de outras mulheres ao meu redor. Criem e mantenham essa rede de suporte mútua. O sucesso de uma mulher é o sucesso de todas nós.

Resiliência, Empatia e Autenticidade

Resiliência, empatia e autenticidade são suas maiores aliadas. Cada experiência, seja positiva ou negativa, é uma chance de aprender e se fortalecer. Vocês não estão sozinhas nessa jornada – apoiar e elevar outras mulheres é a base. Juntas, podemos alcançar muito mais do que sozinhas.

Mantenham seus sonhos e objetivos sempre à vista e continuem se dedicando, pois a liderança é uma jornada contínua de aprendizado e crescimento. As qualidades que nos diferenciam são poderosas. Intuição, empatia, escuta e busca por autoconhecimento fazem a diferença na liderança.

Essas características femininas trazem uma perspectiva única e enriquecedora, contribuindo para um ambiente de trabalho mais harmonioso e colaborativo. A intuição ajuda a tomar decisões mais acertadas, a empatia constrói relações de confiança, a escuta ativa valoriza cada membro da equipe, e o autoconhecimento nos permite liderar com mais sabedoria e equilíbrio.

Abrace o Impacto da Liderança

Abracem cada experiência e nunca subestimem o poder do seu impacto. A liderança feminina é valiosa para criar um mundo mais justo e equitativo. Vocês têm a capacidade de transformar não apenas suas vidas, mas também as vidas de muitos ao seu redor. Continuem fortes, determinadas e fiéis a quem são.

A verdadeira mudança começa com cada uma de nós, e juntas, podemos moldar um futuro melhor para todos.

WHR Knowledge: Gratidão, Michelle, por compartilhar suas experiências conosco sobre o tema liderança feminina. Temos certeza de que suas palavras irão inspirar muitas mulheres a seguir seus sonhos e alcançar grandes conquistas. E ajudará muitas empresas a refletirem suas ações sobre o tema liderança feminina.

 

 

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