17 Entrevista: Como Etarismo Afeta as Mulheres
17 Entrevista: Como Etarismo Afeta as Mulheres

Etarismo, ou discriminação baseada na idade, afeta profissionais de todas as idades e gêneros, mas as mulheres são frequentemente as mais penalizadas.
Essa forma de preconceito pode limitar oportunidades de carreira, impactar a autoestima e diminuir a produtividade no local de trabalho.
Para aprofundar essa discussão, entrevistamos Cristina Doretto, mulher, mãe e executiva 50+, com 30 anos de experiência em empresas nacionais, multinacionais, empreendedorismo e comprometida com a educação continuada para se manter atuante diante de novos desafios.
Ao longo de sua jornada pessoal e profissional, desenvolveu habilidades comportamentais como resiliência, empatia, gestão de conflitos e flexibilidade, que são utilizadas como ferramentas para treinar e desenvolver equipes com diferentes perfis e gerações.
Certificada como Mediadora Privada e em Comunicação Não Violenta, adquiriu as técnicas necessárias para a gestão de conflitos, que é sua grande paixão, por entender que a beleza nas relações humanas se dá através do diálogo.
Atualmente, ela é CEO e fundadora da Pulsa Relações Intergeracionais, uma consultoria de educação corporativa com foco em Diversidade Geracional e Etarismo.
Cristina compartilhou suas experiências sobre o que é o etarismo e como ele se manifesta no ambiente de trabalho, os principais fatores que contribuem para sua existência nas empresas, e como ele impacta a carreira e o desenvolvimento profissional dos colaboradores, com um foco especial nas mulheres.
Confira a Entrevista Completa: Como Etarismo Afeta as Mulheres
WHR Knowledge: Antes de tudo, gostaríamos de agradecer a sua participação, pois temos a certeza de que a sua experiência ajudará muitas mulheres e empresas.
Para começarmos e todos estarem na mesma página, você poderia nos explicar o que é etarismo e como ele se manifesta no ambiente de trabalho?
Cristina Doretto: Eu que agradeço esse convite, estou muito feliz pela oportunidade de compartilhar o meu conhecimento e experiência com vocês.
Vamos a resposta, etarismo ou ageísmo é a discriminação ou preconceito com base em estereótipos associados à idade de uma pessoa e um dos pontos mais críticos está relacionado ao mercado de trabalho.
Isso porque à medida que uma pessoa envelhece, as oportunidades no mercado de trabalho ou de promoção se tornam escassas apesar das experiências, habilidades e conhecimentos acumulados.
WHR Knowledge: Quais são os principais fatores que contribuem para a existência do ageísmo nas empresas?
Cristina Doretto: O principal deles é o estereótipo negativo que leva a percepções preconceituosas sobre habilidades, capacidades e adaptabilidade de pessoas mais velhas ou muito jovens e que podem levar a decisões discriminatórias.
Outros fatores como uma cultura organizacional que valoriza a juventude, preferências de recrutamento por candidatos mais jovens, associando juventude com maior energia, flexibilidade e inovação, tecnologia e mudança de habilidades, à medida que as tecnologias e práticas de trabalho evoluem, pode haver uma percepção de que trabalhadores mais velhos não têm habilidades atualizadas e pressões econômicas pois em períodos de recessão ou competitividade intensa, há uma tendência para reduzir custos e maximizar a produtividade, o que pode levar a demissões focadas em profissionais mais velhos que normalmente ganham salários maiores.
WHR Knowledge: De que forma o ageísmo impacta a carreira e o desenvolvimento profissional dos colaboradores?
Cristina Doretto: O etarismo pode ter impactos significativos e negativos na carreira e no desenvolvimento profissional dos funcionários, afetando diferentes aspectos de sua trajetória como limitação de oportunidades de promoção, falta de investimento em treinamento e desenvolvimento, redução de responsabilidades e desafios, insegurança no emprego, erosão da confiança e autoestima, barreiras à recolocação profissional e o impacto mais preocupante que é na saúde mental e bem-estar causando estresse, ansiedade e outros problemas de saúde , à medida que os colaboradores sentem-se desvalorizados e esquecidos.
WHR Knowledge: Como o etarismo afeta especificamente as mulheres no ambiente de trabalho?
Cristina Doretto: O ageísmo afeta mulheres no ambiente de trabalho de maneira particularmente acentuada, exacerbando as desigualdades de gênero já existentes.
A forma mais conhecida e sentida pelas mulheres é a dupla discriminação pois elas enfrentam tanto a discriminação de gênero quanto a discriminação etária, especialmente à medida que envelhecem. Isso resulta em uma “dupla penalização”, onde são vistas como menos competentes devido à idade e ao gênero.
Outras formas também impactam diretamente as mulheres pois à medida que envelhecem, as mulheres podem ter menos oportunidades de promoção ou de assumir papéis de liderança reduzindo sua visibilidade e influência.
Outro ponto importante está na desigualdade salarial agravada pela combinação de discriminação de gênero e etarismo que pode levar a uma maior disparidade salarial para mulheres mais velhas, que já enfrentam uma diferença de remuneração ao longo de suas carreiras.
Não podemos deixar de lado os desafios na recolocação profissional de mulheres mais velhas que ao buscarem novas oportunidades de emprego são vistas como menos competitivas.
WHR Knowledge: Existem setores ou indústrias onde o etarismo contra mulheres é mais prevalente? Se sim, quais?
Cristina Doretto: Sim, ageísmo contra mulheres tende a ser mais prevalente em certos setores e indústrias, especialmente aqueles que valorizam a juventude, a aparência física ou onde predominam estereótipos de gênero rígidos.
Podemos observar alguns setores mais afetados como a indústria da moda e beleza por ainda valorizar a juventude e a aparência física e com isso as oportunidades de trabalho podem diminuir significativamente à medida que elas envelhecem.
Outro setor importante é o de Mídia e Entretenimento, Áreas como televisão, cinema e jornalismo, mulheres mais velhas frequentemente enfrentam discriminação em comparação com seus colegas masculinos. Já o setor de Tecnologia e Startups é frequentemente associado a uma cultura de juventude, inovação e dinamismo, o que pode levar ao etarismo.
Mulheres mais velhas podem enfrentar desafios para se destacar ou progredir em um ambiente que valoriza os jovens, especialmente em startups. Em outros quatro setores ainda temos barreiras para mulheres mais velhas sendo em Publicidade e Marketing, Vendas e Atendimento ao Cliente, Indústria da Saúde e Bem-Estar e no Corporativo em Geral, tornando o etarismo uma barreira significativa para o desenvolvimento profissional e a equidade de gênero.
WHR Knowledge: Quais desafios específicos as mulheres enfrentam em comparação com os homens quando se trata de etarismo?
Cristina Doretto: No imaginário coletivo, o profissional homem mais velho é visto como sênior, experiente, mais potente e mais preparado. Para o executivo, o grisalho é sinônimo de conhecimento e poder. Já para as mulheres, os adjetivos mais comuns são desatualizada, atrasada e sem agilidade.
Nós não temos um tempo nobre durante nossa vida corporativa pois primeiro, somos jovens demais para sermos responsáveis ou liderar e isso dura até a metade ou o fim dos trinta anos e talvez estejam esperando para ter certeza de que não teremos filhos. Então, de repente, somos velhas demais para sermos contratadas ou promovidas enquanto homens ainda são jovens o suficiente na mesma idade.
Todas estas combinações de pressões para manter a juventude, discriminação de gênero e etarismo levam a maiores níveis de estresse, ansiedade e outros problemas de saúde mental nas mulheres mais velhas.
WHR Knowledge: Como o etarismo pode afetar a auto-estima e a produtividade das mulheres no trabalho?
Cristina Doretto: O etarismo tem um impacto profundo na autoestima e na produtividade das mulheres no ambiente de trabalho começando pelo sentimento de desvalorização quando elas são tratadas de forma diferente ou são preteridas em favor de colegas mais jovens.
Sentir que tem menos oportunidades de crescimento e desenvolvimento profissional pode fazer com que as mulheres sintam que atingiram um teto em suas carreiras e isso pode diminuir a confiança em sua capacidade de contribuir e crescer dentro da organização.
Isso pode resultar em uma queda na produtividade, já que elas podem se sentir desmotivadas para dar o melhor de si.
É importante destacar os efeitos a longo prazo com diminuição da autoestima levando a uma espiral de desvalorização pessoal, onde as mulheres começam a internalizar as mensagens de que são menos capazes ou relevantes. Isso pode ter um impacto duradouro na saúde mental e no bem-estar geral.
WHR Knowledge: Você pode compartilhar algum caso específico de etarismo contra mulheres que ilustre bem esse problema?
Cristina Doretto: Eu mesma vivi diversas experiências ruins relacionadas ao Etarismo. A mais marcante delas aconteceu em 2019 quando fui contratada como Country Manager em uma startup de um grande grupo na área de beleza.
Cheguei para liderar um time já estabelecido e com perfil bem jovem, quase todos Geração Y e alguns Geração Z, e para minha surpresa não fui acolhida e nem tão pouco respeitada pela minha experiência tanto de vida quanto profissional.
Parecia que eu era transparente dentro do escritório e também nas reuniões de trabalho. Somente quando a operação entrou de fato no ar e que os problemas complexos começaram a surgir é que eu tive minha voz ouvida e considerada.
A partir desta experiência decidi estudar e trabalhar com Diversidade Geracional e Etarismo para ajudar outras mulheres a não passarem pelo que eu passei.
WHR Knowledge: Quais são as melhores práticas que as empresas podem adotar para combater o etarismo?
Cristina Doretto: Combater o etarismo no ambiente de trabalho requer um esforço consciente por parte das empresas para criar uma cultura inclusiva que valorize a diversidade geracional.
Algumas práticas adotadas em conjunto com a área de Recursos Humanos podem ajudar no conhecimento e na conscientização do quanto o etarismo atinge de forma negativa as pessoas. As principais podem estar focadas em educação e sensibilização, oferecendo treinamentos regulares para todos os funcionários sobre o que é etarismo, como reconhecê-lo e como evitá-lo.
Além disso gosto da liderança pelo exemplo, portanto os líderes da empresa devem ser modelos de comportamento inclusivo, promovendo a conscientização sobre a importância da diversidade etária e abordando diretamente quaisquer sinais de etarismo.
Tão importante quanto estes acima a empresa deve implementar práticas de recrutamento que sejam justas e livres de preconceitos relacionados à idade e incluir a diversidade geracional e etária como um dos critérios nos planos de diversidade e inclusão da empresa.
WHR Knowledge: Existem políticas ou iniciativas específicas que têm se mostrado eficazes na redução do ageísmo?
Cristina Doretto: Sim. Diversas empresas têm adotado uma Cultura de Trabalho Inclusiva com mentoria intergeracional onde funcionários de diferentes idades possam aprender uns com os outros, valorizando tanto a experiência dos mais velhos quanto as novas perspectivas dos mais jovens.
WHR Knowledge: Como os profissionais de Recursos Humanos podem atuar para identificar e mitigar o ageísmo nas suas organizações?
Cristina Doretto: O primeiro passo é realizar um trabalho de diagnóstico e identificação através dos dados demográficos sobre a força de trabalho, incluindo idade, para identificar padrões de contratação, promoções, demissões e outras práticas que possam indicar a presença de etarismo.
Conduzir pesquisas de clima que incluam perguntas específicas sobre a percepção dos funcionários em relação à discriminação etária também é importante e ajuda a identificar áreas onde o etarismo pode estar presente.
Por último desenvolver e implementar políticas claras contra o etarismo, comunicando que a discriminação com base na idade é inaceitável e será tratada com seriedade aliando treinamento e sensibilização de líderes e gestores para reconhecer e evitar o etarismo, ensinando-os a valorizar a diversidade etária em suas equipes.
WHR Knowledge: Como você vê o futuro do mercado de trabalho em relação ao ageísmo? Há sinais de melhora?
Cristina Doretto: Sim, há sinais de melhora. Hoje sinto que o tema está presente em debates, congressos, mídias e em quase todos os canais de acesso da área de Recursos Humanos. É positivo ver este movimento ganhando força e trazendo um tema tão importante para debate, reflexão e mudanças.
O ageísmo é mais universal dos preconceitos e sempre foi colocado de lado devido a uma sociedade que molda toda e qualquer evolução pautada em jovialidade. Isso está mudando como por exemplo hoje já se fala em economia prateada onde as empresas e marcas estão pensando em produtos e serviços desenhados exclusivamente para o público 50+.
WHR Knowledge: Que conselhos você daria para as mulheres que enfrentam o ageísmo em suas carreiras?
Cristina Doretto: Que elas reconheçam seu valor e confiem nas habilidades que a trajetória profissional de cada uma traz não só para a empresa, mas principalmente para as relações pessoais e sociais.
Acho bacana também sugerir um investimento em formação continuada participando de cursos, workshops e eventos em sua área de atuação mostrando que está sempre antenada com as últimas tendências.
E o mais importante construa uma rede de apoio com colegas de trabalho, amigos e mentores. Conversar com outras pessoas que passaram por experiências semelhantes pode oferecer insights valiosos e apoio emocional.
WHR Knowledge: Gostaríamos de expressar nossa profunda gratidão pela sua participação nesta entrevista.
Suas reflexões e experiências enriquecem enormemente a discussão e proporcionam uma visão prática e esclarecedora sobre como a questão da idade se manifesta no ambiente profissional.
Estamos certos de que suas palavras serão valiosas para profissionais e empresas que buscam compreender melhor esse fenômeno e trabalhar em prol de um ambiente de trabalho mais inclusivo e justo. Agradecemos por compartilhar seu tempo e conhecimento conosco.
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